Venho trabalhando com mulheres há um tempo na clínica. Isso me permite afirmar que muitas das dificuldades que enfrentam possuem terrenos em comum. A primeira delas diz respeito a conciliar a vida pessoal e profissional. De fato, longas jornadas no mercado de trabalho somadas aos serviços domésticos fazem com que sobre pouco tempo para si mesma e para aqueles a quem amam.

Os desafios cotidianos também fazem parte das dificuldades enfrentadas por mulheres: Como conseguir se concentrar no trabalho sabendo que o filho está doente em casa? Como sustentar financeiramente a casa quando o parceiro está desempregado? Como ser multitarefas quando tudo que se quer fazer é repousar? Como manter o rendimento quando se sofre com noites mal dormidas?

Estas questões e muitas outras podem interferir consideravelmente na qualidade da saúde mental das mulheres. Pensando nisso, escrevi um texto com os principais indicadores de problemas em saúde mental que merecem sua atenção, pois podem ser fonte de intenso sofrimento. Saiba que os sinais de alerta para questões de saúde mental variam de pessoa para pessoa, então, se você não encontrar algum outro indicador que lhe faça sentido, não o ignore e considere buscar ajuda profissional.

Sinais de Sofrimento em Saúde Mental

  1. Mudanças repentinas de humor: A título de curiosidade, há dois polos básicos de alterações de humor: o polo do humor depressivo e o polo do humor maníaco. Ambos podem vir acompanhados de irritabilidade, desgosto, amargura e agressividade. No caso do humor maníaco, trata-se de uma alegria patológica (euforia), ou seja, a pessoa se encontra em um estado de alegria intensa que é desproporcional às circunstâncias. Esse estado pode se expandir, e o sujeito passa a se sentir grandioso e poderoso. Isso ocorre, entretanto, em casos mais sérios, e a ajuda de um psiquiatra pode ser bem-vinda.

Em realidade, diversos fatores levam a mudanças de humor repentinas. Quando essas mudanças não estão associadas a transtornos mais graves, é comum que sujeitos que estejam sob muito stress e cobrança sintam transformações bruscas de humor. Também é comum em indivíduos que estão lidando com frustrações, desconfortos frequentes, doenças, perdas, entre muitos outros. Cada caso é único e, por vezes, os motivos mais profundos das alterações no humor são inconscientes. Dessa forma, é comum que pessoas que buscam alívio de seus sintomas e compreensão do que está acontecendo com elas, busquem o auxílio de uma psicóloga.

  1. Alterações no padrão de sono: Você sabia que passamos 1/3 de nossa vida dormindo? Pois é. O sono é uma necessidade psicofisiológica muito importante e que ajuda a regular o organismo, manter o equilíbrio físico-químico, e recuperar a energia. 

Quando somos impedidos de dormir, sofremos graves alterações de comportamento e metabólicas. Podemos apresentar mudanças na atenção e no desempenho, aumento de apetite, fadiga, baixa qualidade de raciocínio, certa incapacidade para tomar decisões corretamente, baixo estado de alerta que nos torna propensos a acidentes, sonolência, dificuldade de concentração e, inclusive, distúrbios mais graves.

Mas por que será que algumas pessoas têm dificuldades em dormir (insônia) ou ficam acordando frequentemente durante a noite? Geralmente, a insônia mostra uma dificuldade do indivíduo em entrar em contato com seu próprio mundo interno. Inconscientemente, o sujeito se recusa a se desligar do mundo externo e das tarefas que precisa cumprir. Acha também muito difícil entrar em contato com seu mundo imaginativo e de fantasias. 

Como alternativa para conseguir dormir, muitos procuram ajuda psiquiátrica para o uso de medicamentos. Vale ressaltar que os remédios podem ajudar a melhorar a qualidade do sono e, consequentemente, a qualidade de vida da pessoa. Entretanto, para aqueles que querem ir além e ter uma compreensão mais profunda sobre si e seu mundo onírico, a psicoterapia psicanalítica é bastante recomendada.

  1. Mudanças no apetite: A alimentação envolve muito mais do que o suprimento de uma necessidade biológica, ou seja, está além da saciedade da fome. Alimentar-se envolve maior ou menor prazer no ato de comer, e tem estreita ligação com o afeto e com o relacionamento interpessoal.

Pense no seguinte: quando escolhemos o que iremos comer, buscamos alimentos que nos dão prazer. Aliás, não sem motivo, muitas pessoas desistem de fazer dietas, pois consideram desprazerosos os alimentos que precisam ingerir para alcançar seus objetivos. Acredito que a questão do prazer é bastante clara em relação ao alimento, não é mesmo? Mas e o afeto e o relacionamento interpessoal?

Quanto ao afeto, podemos penar que a comida tende a ser símbolo de agregação. Nas datas festivas, amigos e familiares se reúnem em torno de um banquete para as comemorações. Nestas reuniões, as pessoas tendem a trocar afetos, que passam também pela comida. Fora isso, é incrível como, por vezes, é possível sentir o que o cozinheiro colocou de si no preparo da comida. Quem nunca comeu algo sem gosto e sem sal? E quando você vai questionar o cozinheiro, descobre que ele estava preocupado com seus problemas pessoais e até entristecido, o que refletiu em sua cozinha.

Mas e quanto ao relacionamento interpessoal? Além do exposto acima, não podemos nos esquecer que uma das primeiras maneiras de nos relacionarmos com nossas mães ou pessoa que substitua a mãe nos cuidados, é por meio da alimentação. Repare como os bebês olham para suas mães enquanto mamam, os movimentos de sua boca e de seu corpo, e seu adormecimento depois de uma experiência de satisfação. 

Com essa breve exposição, quero mostrar o quanto o comportamento alimentar é complexo. Uma perda ou ganho de apetite, por exemplo, pode estar relacionado a diferentes momentos da vida, em que passamos por mais ou menos problemas. Entretanto, quando essa modificação alimentar persiste, é necessário pensar se está relacionada a uma dificuldade que se sente como sendo intransponível, e procurar ajuda.

  1. Sentimentos persistentes de tristeza ou desesperança: É comum que diante de perdas concretas ou simbólicas, as pessoas vivenciem um processo de luto. Todavia, quando o luto se prolonga e o sujeito é assolado persistentemente por sentimentos de tristeza, raiva, decepção, vazio e desesperança, pode ser aconselhável procurar ajuda por parte de um profissional.

O luto prolongado, conhecido como melancolia, trata-se de uma incorporação por parte do Eu ao objeto perdido. Vamos trabalhar com um exemplo para compreender melhor esse conceito: Vamos pensar em uma filha que apresenta dificuldades em elaborar a morte do pai e não consegue dar um sentido para o luto que vivencia. Conforme esse luto é vivenciado por bastante tempo, essa filha resolve procurar pela ajuda de uma psicóloga. Por sua vez, a terapeuta percebe que sua paciente, em um movimento inconsciente, se identificou com seu pai e passou a desenvolver características semelhantes a ele. Por exemplo, se o pai era uma pessoa esquecida e distraída, a filha começa a apresentar os mesmos sinais. Isso não quer dizer que ela se transformará totalmente em seu pai, mas que tem uma escolha inconsciente por certas características da pessoa perdida que podem ser mais ou menos visíveis.

Uma das dificuldades nesse processo de identificação é que as pessoas que amamos também são aquelas a que odiamos. Geralmente são as pessoas por quem possuímos profundo afeto que aguentam nossos momentos de raiva e de explosões. Ou seja, experienciamos uma ambivalência afetiva frente a nossos entes mais queridos. Assim, quando o Eu incorpora em si partes desse outro amado e odiado ao mesmo tempo, ele se torna em parte esse outro, e direciona os afetos de amor e ódio para si mesmo. Por esse motivo, pessoas melancólicas passam a sofrer com autoacusações, auto recriminações, autopunição, culpa por sentir ódio, entre outros sentimentos. Quem ela ataca não é necessariamente a si mesma, mas a pessoa perdida.

  1. Ansiedade excessiva: A ansiedade por si só é uma sensação esperada especialmente quando nos encontramos em situações de luta-fuga-paralisia, ou seja, quando estamos diante de algum perigo. Os sentimentos de desconforto e inquietação, além de sensações corporais como sudorese e taquicardia, são esperados quando nos vemos frente a frente com um estímulo ansiógeno. Todavia, quando a ansiedade passa a ser excessiva, ocorrendo, por vezes, diante de situações que racionalmente não são perigosas, um sofrimento intenso toma conta da pessoa.

Sujeitos muito ansiosos tendem a se preocupar constantemente, apresentam temores em relação ao futuro, podem sofrer de ataques de pânico, têm sintomas somáticos (vertigem, sudorese, tremores, etc), demonstram medo excessivo em relação a atividades cotidianas e sentem insegurança e nervosismo. Enfim, têm sua vida bastante prejudicada por conta de altos níveis de ansiedade.

Muitas vezes, as pessoas mais ansiosas conseguem identificar os momentos em que se sentirão ansiosas (com exceção daqueles diagnosticados com transtorno do pânico). Algumas até sabem dizer o porquê determinadas situações lhes afetam; porém, apresentam dificuldade em compreender profundamente porque se sentem tão abaladas. Nesse sentido, o trabalho de uma psicóloga e/ou psicanalista será o de ajudar a paciente a trazer elementos de sua história que podem ajudá-la a compreender o que está sentindo, e de que forma pode modificar os significados que dá a seu sintoma.

  1. Pensamentos suicidas: É muito comum que pacientes deprimidos e ansiosos apresentem o desejo de morrer e/ou de desaparecer. Geralmente isso vem acompanhado a outros sintomas e sofrimentos, como humor depressivo; ódio contra si; dores crônicas; hostilidade; etc. 

Como trata-se de algo bastante delicado, é fortemente recomendável que se busque ajuda médica e psicológica. O profissional que cuidará da paciente deve ser bastante cuidadoso e empático, entendendo que aquilo que a paciente expressa diz sobre um estado interior de muito sofrimento. Afinal, quem pensa, tem impulsos e planeja a própria morte, está desesperançado e sem perspectivas de que a vida pode ser diferente. 

Se você ou alguém que você conheça está enfrentando algum desses sinais de alerta, é essencial buscar apoio profissional. Um profissional de saúde mental qualificado poderá realizar uma avaliação adequada e recomendar o tratamento apropriado. 

Recomendo também que se pense na possibilidade de construir uma rede de apoio para você, se isso for possível. Poder conversar com pessoas que se importam com você e contar com a ajuda delas, pode fazer toda a diferença.

Psicóloga Natália Saab Sesquim – CRP 06/114220

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