As dúvidas sobre o que faz ou não faz um psicoterapeuta são bastante frequentes e a falta de clareza sobre o assunto pode levar muitas pessoas a adiar ou a não se engajar em um processo psicoterápico. Para ajudar a responder a essas questões, escrevi 5 pontos principais sobre o que faz um psicoterapeuta e 5 pontos sobre o que ele não faz. É importante que você saiba que os itens discutidos estão todos interligados e que um tópico acaba complementando o outro. Espero que esse texto lhe traga maior clareza sobre o assunto. Vamos lá?

O Que Faz Um Psicoterapeuta? 

1) Acolhe o sofrimento

É muito comum que se receba no consultório pessoas que se sentem perdidas e confusas em relação às suas próprias emoções e situações que estão experienciando. Assim, antes mais nada, o psicoterapeuta acolherá dentro de si as expressões verbais e corporais do paciente para depois ajuda-lo a “dar nome aos bois”, ou seja, nomear o que está sentindo. Como você pode constatar, a psicoterapia começa com a fala livre do paciente e a escuta acolhedora do terapeuta.

Há pacientes que acreditam que sofrem mais ou menos quando se comparam a pessoas que estão em situações consideradas piores ou melhores do que eles. Saiba que o psicoterapeuta não coloca uma régua em cada um de seus pacientes para tentar medir o nível de sofrimento de cada um. Ao contrário, o psicólogo psicoterapeuta, não descarta nenhum tipo de sofrimento, mas o acolhe e tenta compreender a função que este exerce na vida de seu paciente. 

2) Oferece escuta especialista

Já que falamos de escuta acolhedora no item anterior, vamos discorrer um pouco sobre a escuta especialista do psicoterapeuta. Diferentemente de pessoas que não foram treinadas para o atendimento clínico em psicoterapia, o terapeuta psicólogo não tem uma escuta passiva ou direcionada a dar palpites e conselhos. Em verdade, o objetivo principal de sua escuta é tentar compreender o que está acontecendo com o paciente e de que forma a queixa do paciente está relacionada à sua história de vida.

Atividade complexa, a escuta do psicoterapeuta está direcionada ao que o paciente tem a dizer sobre si mesmo e como ele enxerga o mundo que o rodeia. É a partir dessa escuta apurada que o terapeuta poderá fazer devolutivas, interpretações e auxiliar o paciente a pensar e ressignificar sua história.

3) Caminha junto ao paciente

Este é um ponto particularmente importante para aqueles que se sentem deslocados, incompreendidos, não pertencentes e solitários. Saber que há alguém que poderá caminhar ao seu lado e te ajudar a enxergar os potenciais que você nem sabia que tinha é de um valor inestimável. 

Neste caminhar conjunto, um psicoterapeuta ético e responsável não irá dizer que caminhos e direções você deverá seguir. Ao invés disso, te ajudará a entender os impasses que você enfrenta, os lutos e lutas pelos quais passou, as alegrias e tristezas, para que você possa fazer escolhas por si próprio. Saiba que aquilo que você sente é experimentado de maneira única por você e, portanto, só você sabe dizer qual caminho deve seguir. Ao mesmo tempo, poder compartilhar sua dor com um profissional que está aberto a ouvir o que for, pode ser essencial para o desenvolvimento de uma escuta de si próprio.

4) Propõe novas reflexões

Como já mencionado anteriormente, é a partir de sua escuta especialista e treinada que o psicoterapeuta conseguirá fazer as intervenções necessárias para cada caso que aparece em seu consultório. Como sabemos, cada pessoa é única, e um bom profissional irá propor diferentes condutas de tratamento para cada paciente que tiver.

E qual seria o objetivo de propor novas reflexões para o paciente? Entre outros, é o de trazer à tona conteúdos que muitas vezes são inconscientes. Imagine só: se o paciente não consegue enxergar de um ponto de vista diferente os motivos de seu sofrimento ou se não consegue explica-lo para si mesmo, como poderia realizar mudanças em sua vida? Assim, as reflexões ou interpretações oferecidas pelo terapeuta podem ser de grande auxílio.

5) Ajuda a pensar em novos jeitos de se colocar no mundo

Às vezes não percebemos que certas escolhas que fazemos não são as únicas opções que temos, não é? Indo ainda mais longe: há vezes em que sequer paramos para pensar porque fazemos o que fazemos. Se conseguimos chegar a uma resposta, esta, por vezes, pode ser superficial ou insuficiente. Entretanto, o trabalho terapêutico com um psicólogo pode te ajudar a pensar nas formas com as quais você se coloca no mundo, as origens de suas escolhas e de que outros jeitos você poderia se posicionar.

O Que Não Faz Um Psicoterapeuta?

 1) Dá conselhos

É muito comum que as pessoas acreditem que o psicólogo que é psicoterapeuta “dá conselhos”, ou seja, diga qual é o melhor caminho a ser seguido e o que o paciente deverá fazer com sua angústia. Isso ocorre devido a um desconhecimento do processo psicoterápico em si, a fantasias de pessoas que nunca fizeram terapia, ou por terem ouvido alguém comentar sobre o assunto.

Mas é muito importante que você saiba disso: psicólogos não dão conselhos. Estes profissionais não irão te dizer o que fazer, mas te ajudarão a entender porque você escolhe o que escolhe, por exemplo. Ou seja, o objetivo é explorar as opções que você tem à sua disposição, assim como pensar em novas possibilidades. Se não fosse assim, imagina o grau de dependência que seria criado se toda vez que você fosse tomar uma decisão, você precisasse pedir ao terapeuta para te dizer o que fazer? Sem dizer na confusão que causaria quando uma pessoa impusesse sua visão a outra. Terapia é troca, não imposição.

2) Resolve seus problemas por você

Uma das características principais de um bom psicoterapeuta é a humildade. Em que sentido? É preciso que o profissional reconheça que a pessoa que sabe mais sobre seu paciente é o próprio paciente. Ou seja, se o terapeuta se propusesse a resolver os problemas do paciente por ele, o colocaria em um terrível lugar de impotência e ele (terapeuta) em uma posição onipotente e de alguém que detém todo o saber sobre o outro. Para que o processo psicoterápico caminhe bem, é necessário que se reconheça que o terapeuta não sabe e nunca saberá tudo de seu paciente. A relação entre ambos é muito mais horizontal do que vertical.

3) Oferece “curas” rápidas e milagrosas

É muito importante que se entenda que a psicoterapia é um processo, e como todo processo, demanda tempo e dedicação por parte do paciente e do psicólogo. Além desse trabalho constante, ainda é preciso levar em consideração o próprio ritmo do paciente para que uma mudança ocorra em sua vida. 

Além do exposto anteriormente, o conceito de “cura” é muito amplo. Para a ciência psicanalítica, a cura vai muito além de erradicar totalmente os sintomas. Ao invés disso, é vista como sinônimo de tratamento, elaboração do sintoma e cuidado de si, como nos diz o professor e psicanalista Christian Dunker. De fato, não paramos para pensar que muitas vezes um sintoma sustenta toda uma rede de associações inconscientes e que para essa rede ser desvelada, é necessário primeiro falar sobre o que está na superfície  para depois ir “puxando”, aos poucos, o que está escondido nela.

4) Adivinha pensamentos

Pode ter certeza de que as categorias de psicólogos e psicanalistas ainda não chegaram ao ponto de adivinhar pensamentos, e certamente nunca chegarão (ainda bem, né? Que chato ter nossa privacidade invadida). O que pode dar essa impressão é que profissionais que têm uma escuta terapêutica muito apurada, conseguem perceber no paciente questões que nem o próprio paciente tem consciência. Isso não é feito por meio de mágica, mas de uma abertura por parte do terapeuta, que por meio de sua disponibilidade e estudo teórico, consegue captar o que parece difícil para o paciente traduzir em seu próprio consciente.

5) Emite julgamentos

Um dos medos mais frequentes de quem busca um psicólogo para dar início a um processo de psicoterapia é o receio de ser julgado. Todavia, a verdade é que os profissionais da psicologia são treinados para deixar suas preconcepções de lado e não julgar a partir de suas moralidades aqueles a quem escutam. 

Um bom profissional se aterá a esse princípio ético constantemente, pois sabe que poderá comprometer o tratamento do paciente se não prestar atenção nisso. Dessa forma, fique tranquilo. Um profissional dedicado à sua profissão está mais preocupado em entender o que se passa com você do que emitir críticas negativas ou positivas em relação à sua pessoa.

6) Fica analisando a todos

Outra preocupação recorrente e inquietante para muitas pessoas é a ideia de que o psicólogo fica observando a todos e produzindo relatórios mentais e explicativos sobre o caso de cada pessoa que faz parte (ou não) de sua vida. É verdade que podemos até desenvolver uma escuta mais apurada devido ao nosso trabalho, mas seria muito cansativo ficar analisando as pessoas a todo o momento. Não teríamos vida social e não conseguiríamos interagir uns com os outros. Imagina querer só bater um papo descompromissado com amigos ou familiares e ficar o tempo todo analisando? O burn out estaria a cada esquina só espreitando o próximo terapeuta que não consegue relaxar em seu tempo livre.

Psicóloga Natália Saab Sesquim – CRP 06/114220

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